Subjetividade

que me Amola


desorganiza o reflexo
Afia a casmurrice
desilude o concreto

e esconde, Cega
o brilho das estrelinhas.
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A diferença fundamental entre o filme e as outras artes é que na sua reprodução do mundo os limites do espaço e do tempo são fluidos - o espaço tem um caráter quase-temporal, e o tempo, até certo ponto, um caráter espacial."
(Arnold Hauser)
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É mais que clara, considerando a clareza absurda das ironias, a crítica à burocracia judicial neste livro. No entanto a grandeza desta crítica se expressa no gume de corte duplo em que achamos absurdo e irreal os acontecimentos que são extremamente compatíveis com nossa realidade. É como levar um tapa. Não só para abrir os olhos, mas tirar dos mesmos o costume ao absurdo decadente da realidade.


Joseph K., personagem central da história, do início ao fim do livro é acusado por algo que desconhece. Nenhum dos personagens, oficiais de justiça ou até mesmo juízes, recebe alguma explicação desta acusação que, provavelmente, está perdida em algum relatório de alguma mesa de algum escritório de algum membro do alto poder judiciário. Com o decorrer da história o motivo do processo vai se diluindo e assim, sendo esquecido. Ficando a loucura de um processo jurídico inalcançável e a única certeza a qual Joseph se agarra é; "sou um acusado". Enquanto vai se envolvendo com seu "processo" passa a agir como culpado de uma culpa desconhecida, não sabe explicá-la, mas a sente até as últimas páginas.

A culpa é personagem principal do livro. A insegurança de uma realidade que fica patinando na beira entre o absurdo irracional e o mais exato realismo das coisas nos faz sufocar tanto quanto aos personagens deste livro. Os diálogos nos colocam entre a verdade e a ironia do disfarce. Não se pode ler os personagens de Kafka acreditando na película de suas personalidades, é necessário buscá-los, no mínimo, nas entrelinhas.


- Os grandes advogados quem são? Como podem ser vistos? – pergunta Joseph K.
- Você nunca ouviu falar deles? – responde o pintor. Não há nenhum acusado que não sonhou com eles durante algum tempo. Não se deixe dominar por essa debilidade. Quem são? Não sei. Quanto a conhecê-los, impossível."


O máximo da crítica à burocracia judicial - por opinião própria não acho que existam diferenças muito acentuadas entre as outras Espécies burocráticas - na obra, acredito que esteja o diálogo com o pintor. Personagem que vive da venda de quadros sem talento aos membros desta burocracia decadente. Estes compram as obras por que devem-lhe favores diversos. Com o tempo tais favores se tornam uma teia social tão ampla com a "baixa" estrutura judiciária - em relação à alta estrutura - o personagem mesmo diz "Quem são? Não sei. Quanto a conhecê-los, impossível." - que se transforma em consultor nessa prática. No dialogo ele explica a Joseph como se viver com um processo. Guiando-o, em troca de seus quadros e a mais valiosa dívida, os favores acumulados, num mergulho de ralações sociais com os juízes a fim de adiar as consequências de seu processo. Após ouvir-lhe e minimamente aceitar sua ajuda Joseph entende a relação do pintor mendigo com os juízes engravatados que "de quatro" se arrastam para entrar no quarto abafado do pintor por conta de seus conselhos e informações dos estratos burocráticos. Neste dialogo, não somente mas em grande intensidade, se mostra exatamente a forma absurda e irracional do funcionamento da lei burguesa. E é no mínimo interessante o paralelo quase implícito com nosso critico parlamento do jeitinho brasileiro.
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De quando-em-vez, me excentrifico.

E caio
sem pingos nem cuidados


nessa tua solidão.
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A alguns dias atrás estava ouvindo meu radinho no celular em uma das pausas do trabalho e ouvi um relato de bombeiro que está no Haiti. Me chamou atenção quando lhe perguntaram sobre a organização da distribuição dos alimentos doados e ele respondeu:

- Não somos autorizados a dar nada aos haitianos. Deixar cair uma garafinha de água já é motivo para confusão. –



É inadmissível a forma como a “ajuda humanitária” esta se dando. Milhares de soldados representando países com milhares de interesses que obviamente pouco beiram a simples apoios humanitários. Nos jornais ouvimos a inteções do imperialismo a planos de reconstrução que sabemos bem como se dão.
Ao capitalismo, uma desastre é sempre uma oportunidade.

Esta frase, dita pelo bombeiro, mostra exatamente como se anda pintando o povo haitiano desde a ocupação pelas tropas da ONU. Nos primeiros dias apos o terremoto vimos como a ajuda internacional centralizou suas forças para ajudar as vitimas do desabamento do prédio da ONU. Mas não destinavam ajuda as comunidades mais afetadas... aos que realmente precisavam de garafinhas de água.

Ao discurso de que o povo haitiano precisa dos capacetes azuis, fuzis, tanques blindados ocupando o território para não se matar por alimente, ou seja, que são selvagens, incapazes de organizar de forma solidaria a ajuda internacional, discurso, dito desde o inicio da ocupação, de que a população haitiana é incapaz de decidir sobre seu próprio destino... as comunidades haitianas respondem:

Coloco dois relatos de Jornalistas independentes que estão no Haiti;
Amy Goodman, apresentadora do programa DemocracyNow!

Eles estão recebendo quase nenhuma ajuda. Passamos de uma família para outra, e eles disseram, continuamente, que suas vidas estão nas mãos de Deus. A própria ONU fez a declaração sobre a segurança. E nós queríamos saber a que eles estavam se referindo. Andamos livremente de um lugar para outro. As pessoas estão desesperadas, mas certamente pacíficas (...) eu penso que nós estamos falando de anarquia do governo, a incrível força comunal da comunidade. Estes campos de refugiados, esses campos menores e maiores que o número chega na casa dos milhares, são comunidades organizadas. À noite, eles colocam pedras na rua. Se você não conhecesse essas comunidades, você diria: 'O que está acontecendo aqui? Certo? São estes, você sabe, os anarquistas? Eles são violentos? Eles estão ameaçando?' Eles estão protegendo suas comunidades e aqueles que estão dentro. E eles não querem que as pessoas de fora entrem, especialmente à noite. É extremamente organizado a nível local, entre bairros, as pessoas ajudando-se mutuamente.


O jornalista Kim Ives, que está viajando junto com o DemocracyNow!

as organizacões comunitárias, nós vimos na outra noite em Mateus 25 (bairro onde há um alojamento com cerca de 600 pessoas desabrigadas) , a comunidade onde nós estamos ficando. Um descarregamento. .. um caminhão cheio de comida veio no meio da noite sem avisar. Poderia ter ocorrido uma briga. A organização da população local foi contactada. Eles mobilizaram imediatamente os seus membros. Eles vieram. Organizaram um cordão. Enfileiraram cerca de 600 pessoas que estão ficando no campo de futebol atrás da casa, que também é um hospital, e eles distribuíram a comida de forma ordenada, em porções iguais. Eles eram totalmente auto-suficientes. Eles não precisam dos "Marines". Eles não precisam da ONU. Eles não precisavam de nenhuma dessas coisas que estão nos falando que eles precisam, ditas também pela Hillary Clinton e o ministro do exterior. Essas são coisas que as pessoas podem fazer por elas mesmas e estão fazendo por elas mesmas.


Não podemos absorver o discurso da grande mídia que reflete a necessidade que o capitalismo tem de esconder suas contradições dentro de sua hipocrisia. Se o terremoto devastou o Haiti é por que lá não se construíram estruturas japonesas. E isso é resultado da desigualdade.
Organizado a serviço dos "privilegiados" não se pode esperar que o sistema questione suas contradições. Muito pelo contrário, irá construir na "fatalidade" de um terremoto um negocio lucrativo com suas multinacionais asseguradas pela ocupação da ONU.

É necessário estarmos atentos e amplamente solidários ao Haiti. Mas que esta solidariedade seja haitiana!

http://solidariedadeaohaiti.blogspot.com/
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